Primeiro avião a energia solar "que dará a volta ao mundo" será apresentado na Suíça
Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo
Será apresentado nesta sexta-feira (26), na Suíça, o Solar Impulse HB-SIA, primeiro avião movido a energia solar programado para planos de voo noturno. Durante o evento, no campo aéreo-militar de Dübendorf, a empresa responsável pela aeronave irá anunciar a data da primeira viagem a ser realizada sob a luz da lua, sem emitir poluentes.
A expectativa é que, no ano que vem, o avião cruze os EUA e, em maio de 2011, dê a volta ao mundo, com escalas em todos os continentes.
O projeto vem sendo considerado a nova aventura de Bertrand Piccard, (não confunda com o capitão de "Jornada nas Estrelas"). O psiquiatra especializado em hipnose, um franco-suíço de 51 anos, foi o primeiro homem a dar a volta ao mundo num balão, sem escalas, em março de 1999.
Apesar de ser um médico conceituado (possui vários títulos, como um prêmio da Faculdade de Medicina de Lausanne) e ainda exercer a profissão, ele não pôde renegar a herança da família, que marcou a história com explorações científicas. Seu avô, Auguste Piccard, o primeiro homem a alcançar a estratosfera em um balão com cabine pressurizada, em 1931. E o pai, Jacques Piccard, atingiu a profundidade recorde de 10.911 metros na fossa filipina das Marianas com o batiscafo "Triest", em 1960.
O desafio de criar uma aeronave com energia limpa foi dividido, em 2002, com o empresário André Borschberg, engenheiro de 57 anos, formado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e ex-piloto da Força Aérea Suíça.
Ele e Piccard conseguiram atrair cifrões de empresas como Solvay, Omega e Deutsche Bank. Além disso, foi formado um comitê de apoiadores do projeto, que inclui personalidades como Al Gore, Buzz Aldrin (homem que pisou na Lua) e até Paulo Coelho. Eles preferem não divulgar o custo do projeto, embora Piccard tenha comentado, em uma entrevista em 2007, que o investimento total (incluindo dois aviões e operações de voo) fosse de cerca de 100 milhões de francos suíços (cerca de R$ 181 milhões), na época.
Projeto ousado
Dificuldades não faltaram para os projetistas, como contou ao UOL Ciência e Saúde Christian Le Liepvre, diretor da Fundação Altran, que presta consultoria em tecnologia e inovação e é parceira do projeto. Afinal, é complicado não colocar peso demais em uma aeronave com envergadura de 61 metros, comparável a um Airbus A340. O tamanho era necessário para permitir uma boa área com painéis solares, com 200 metros quadrados de células fotovoltaicas. Graças à estrutura de fibra de carbono e um design inteligente, foi possível condensar tudo em apenas 1,5 tonelada.
A aeronave se movimenta a 70 quilômetros por hora, em média, e o cockpit prevê apenas um piloto, que precisa usar máscara de oxigênio em grandes altitudes. A potência dos motores não passa de 8 HP ou 6kW, mais ou menos o equivalente à da máquina construída pelos irmãos Wright em 1903. O desempenho parece modesto, mas é um feito ao se considerar a capacidade de voar sem sol e nem sequer um litro de combustível.
"Uma bateria de lítio de 400 quilos permite o voo noturno", explica Le Liepvre. Além disso, o piloto do Solar Impulse terá que seguir uma rotina para manter a aeronave em funcionamento: no fim da noite, a altitude será de cerca de 3.000 metros. Com o nascer do sol, o avião começará a subir, alimentando as baterias. Após algumas horas, alcançará 12.000 metros e, ao entardecer, retomará os 3.000 metros.
Com todos esses parâmetros, quanto tempo deverá durar a esperada volta ao mundo? De 20 a 25 dias, segundo o diretor. Mas o tempo prolongado se deve à limitação humana - é um piloto só, voando 24 horas por dia. E não daria para voar mais rápido? "Já existe tecnologia para construir um avião mais veloz, mas nesse caso seria preciso reduzir outras performances, como a duração do voo, a altitude e o nível de segurança.
"Para Le Liepvre, o projeto é uma porta aberta para um futuro mais verde. "É uma nova tecnologia, um novo conceito que permitirá uma série de aplicações. Por exemplo, podemos imaginar um avião como esse com equipamentos de telecomunicações para registrar uma Copa do Mundo", comenta, deixando uma ideia no ar para potenciais investidores.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/06/25/ult4477u1791.jhtm
26 de jun. de 2009
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