8 de ago. de 2009

Reportagem do Jornal Folha de Londrina destaca a profissão de piloto

Reportagem veiculada no dia 07 de agosto de 2009, no Jornal Folha de Londrina, entrevistou o Prof. Giorge Tsuruta e os alunos Ivan Saab Lima e Natalia Cristina Boni, do curso de Ciências Aeronáuticas da UNOPAR, a respeito do curso de formação de pilotos, bem como da atual situação do mercado de trabalho para esses profissionais que se formam todos os anos na Universidade. Abaixo, segue a íntegra da reportagem.


07/08/2009
SUA carreira - No chão e nos ares da aviação
­‘Mais que pi­lo­tar, o im­por­tan­te é sa­ber ge­ren­ciar a ­aeronave’

Ivan ­Saab Li­ma é pi­lo­to há ­mais de 10 ­anos, mes­mo com a ex­pe­riên­cia op­tou por cur­sar a fa­cul­da­de



‘‘­Quem faz o cur­so são pes­soas apai­xo­na­das por ­aviação’’, re­su­me Gior­ge Tsu­ru­ta, pro­fes­sor de se­gu­ran­ça de voo

Voar faz parte do imaginário de muita gente: é mítico, é romântico. Ser piloto de avião, assim como ser bombeiro, médico ou qualquer outra carreira, cujos atos lembrem os de um super-herói, vez ou outra entra no sonho profissional de alguém. Por essas e outras razões, a graduação em Ciências Aeronáuticas é um dos cursos mais procurados e com menos desistência da Universidade Norte do Paraná (Unopar), em Londrina. ''Quem faz o curso são pessoas apaixonadas por aviação'', resume Giorge Marlon Lopes Tsuruta, professor de segurança de voo do curso. Segundo ele, em torno de 80% dos graduandos carregam consigo o desejo de se tornar piloto.

Mas engana-se quem pensa que vai sair da faculdade ''voando''. O curso, que foi implantado no ano 2000, tem duração de três anos, envolve diversas áreas da aviação e quem quer seguir a carreira de piloto ainda vai precisar passar pelo curso prático oferecido por alguns aeroclubes homologados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), incluindo o de Londrina.

Entre as ênfases da graduação estão as disciplinas de segurança e de gestão do setor aeronáutico. O objetivo, segundo Tsuruta, é cuidar da profissionalização do aluno como um todo. ''O diferencial da graduação em ciências aeronáuticas é o trabalho feito nas questões gerenciais do setor que hoje são indispensáveis para quem quer trabalhar nas companhias aéreas'', aponta o professor. Ele argumenta, inclusive, que a ideia de implantar o curso surgiu justamente da necessidade do mercado por profissionais mais ''completos''.

Ele explica, por exemplo, que atualmente para ser um piloto não basta apenas saber ''pilotar''. ''O importante é gerenciar'', pontua. Hoje em dia, acrescenta Tsuruta, a maioria das aeronaves é automática, então um piloto precisa aprender a gerenciar essa máquina e os outros profisisonais que trabalham ao seu redor. ''Hoje 90% da função de um piloto é gerenciar e não apenas pilotar uma aeronave''.

Quem sai do curso de graduação, por sua vez, pode atuar em aeroportos e empresas aéreas. Um dos setores que tem absorvido parte desses profissionais é o que envolve segurança de voo, principalmente a área de prevenção de acidente. ''Tudo o que está relacionado às atividades de voos são bem legisladas. Então, uma das atividades dos profissionais que atuam na parte de segurança é verificar se os processos das empresas do setor estão de acordo com as normas estabelecidas'', observa.

Tsuruta comenta que a profissão de piloto quase sempre está relacionada ao glamour, ao romantismo, o que deixa alguns deles se sentindo melhores do que outros. Com o curso, afirma ele, a ideia é mostrar que a profissão tem lá suas especialidades e belezas, mas trata-se de uma carreira como qualquer outra. ''Fazemos um trabalho de profissionalização no sentido de mostrar todos os lados do setor aéreo e para que o aluno não saia da faculdade achando que é um deus'', finaliza.

Bre­vê exi­ge 150 ho­ras au­las de voo

  Se­gun­do Gior­ge Tsu­ru­ta, pro­fes­sor do cur­so de ciên­cias ae­ro­náu­ti­cas da Uno­par, ­quem qui­ser se­guir a car­rei­ra de pi­lo­to ou de ins­tru­tor de voo pre­ci­sa fa­zer um trei­na­men­to à par­te. ‘‘Nos­sa gra­dua­ção per­mi­te que o alu­no fa­ça es­sas au­las du­ran­te ou ­após o ­curso’’, des­ta­ca. ­Aqui em Lon­dri­na, as au­las prá­ti­cas po­dem ser fei­tas no Ae­ro­clu­be.

  Pa­ra ob­ter o Cer­ti­fi­ca­do de Ha­bi­li­ta­ção Téc­ni­ca, o fa­mo­so bre­vê, é pre­ci­so com­ple­tar 150 ho­ras au­las de voo. Com es­sa pon­tua­ção o alu­no es­tá au­to­ri­za­do a ser pi­lo­to pri­va­do ou co­mer­cial, em ae­ro­na­ves de pe­que­no por­te. Já pa­ra ser pi­lo­to de li­nha aé­rea, é pre­ci­so so­mar no mí­ni­mo 1,5 mil ho­ras de voo. A pre­pa­ra­ção pa­ra ser pi­lo­to po­de le­var de ­três me­ses a ­mais de um ano. Se­gun­do, Tsu­ru­ta a du­ra­ção do cur­so se­rá de acor­do com a dis­po­ni­bi­li­da­de de tem­po e de re­cur­sos do alu­no. Ca­da ho­ra au­la prá­ti­ca cus­ta em mé­dia R$ 230.

  O cur­so de gra­dua­ção em ciên­cias ae­ro­náu­ti­cas, por sua vez, tem du­ra­ção de ­três ­anos e a men­sa­li­da­de é de R$ 436. Du­ran­te a gra­dua­ção, ex­pli­ca o pro­fes­sor, os alu­nos têm ape­nas au­la de si­mu­la­ção de voo, mas não au­las prá­ti­cas. Nos la­bo­ra­tó­rios têm até si­mu­la­ção de sis­te­mas de ae­ro­na­ves de gran­de por­te. ‘‘É tu­do mui­to pró­xi­mo do ­real, mas não é ­prática’’, en­fa­ti­za Tsu­ru­ta. Os alu­nos tam­bém têm aces­so a um la­bo­ra­tó­rio no ­qual re­ce­bem orien­ta­ções so­bre me­câ­ni­ca.

  Ele ex­pli­ca que ­quem ser pi­lo­to po­de fa­zer ape­nas o cur­so prá­ti­co do Ae­ro­clu­be, que tam­bém ofe­re­ce al­gu­mas dis­ci­pli­nas teó­ri­cas. Mas o gran­de di­fe­ren­cial da gra­dua­ção é que os alu­nos têm con­ta­to com dis­ci­pli­nas que ho­je são in­dis­pen­sá­veis pa­ra tra­ba­lhar no se­tor aé­reo, mes­mo pa­ra aque­les que de­se­jam ape­nas ser pi­lo­tos.

  O pro­fes­sor en­fa­ti­za que a gra­dua­ção tam­bém aju­da o alu­no a se in­se­rir no mer­ca­do de tra­ba­lho, fa­zen­do par­ce­rias com em­pre­sas e opor­tu­ni­zan­do es­tá­gios. ‘‘Mui­tos alu­nos são ­efetivados’’, ga­ran­te. Quan­to aos sa­lá­rios ofe­re­ci­dos no se­tor, Tsu­ru­ta in­for­ma que va­riam con­for­me a fun­ção exer­ci­da. Se­gun­do ele, ­quem ­atua na ­área ad­mi­nis­tra­ti­va, por exem­plo, na par­te de se­gu­ran­ça ou ges­tão po­de en­trar no mer­ca­do com sa­lá­rio ini­cial em tor­no de R$ 2 mil. A re­mu­ne­ra­ção ini­cial de um pi­lo­to co­mer­cial gi­ra em tor­no de R$ 3,5 mil. Um co­pi­lo­to de li­nha aé­rea que aca­bou de en­trar ga­nha per­to de R$ 5 mil e um co­man­dan­te de ­voos in­ter­na­cio­nais po­de re­ce­ber em tor­no de R$ 18 mil. (E.Z.)

De­se­jo de ­voar é o que mo­ve alu­nos

  ­Ivan ­Saab Li­ma, 31 ­anos, sem­pre so­nhou em ser pi­lo­to. Quan­do ter­mi­nou o En­si­no Mé­dio até pres­tou ves­ti­bu­lar pa­ra Fí­si­ca na Uni­camp, pas­sou, mas não foi se­quer um dia pa­ra a au­la. Aca­bou se ins­cre­ven­do no cur­so prá­ti­co pa­ra pi­lo­to do ae­ro­clu­be de Pi­ra­ci­ca­ba, in­te­rior de São Pau­lo. Fo­ram ­dois ­anos de cur­so, e de lá pa­ra cá já são ­mais de dez ­anos pi­lo­tan­do ae­ro­na­ves exe­cu­ti­vas. ‘‘To­do pi­lo­to é pi­lo­to por­que gos­ta mui­to. ­Voar é al­go ro­mân­ti­co, mí­ti­co. Até ho­je ain­da ­acho lin­do ­voar’’, con­ta o pro­fis­sio­nal.

  Mes­mo com to­da a ex­pe­riên­cia nos ­ares – já so­ma ­mais de 1,5 mil ho­ras de voo – Li­ma de­ci­diu en­trar pa­ra a fa­cul­da­de de ciên­cias ae­ro­náu­ti­cas no ano pas­sa­do. ‘‘O cur­so é mui­to in­te­res­san­te, ofe­re­ce um apro­fun­da­men­to do se­tor. Ho­je eu ve­jo is­so co­mo ­fundamental’’, ana­li­sa o pi­lo­to, que tem a in­ten­ção de con­ti­nuar a car­rei­ra na ­área co­mer­cial.

  Pa­ra ­quem de­se­ja se­guir a mes­ma pro­fis­são, Li­ma acon­se­lha a ter sem­pre em men­te que ser pi­lo­to não é ser su­per-he­rói. ‘‘Há que se ter um pou­co de me­do de ­voar’’, brin­ca ele. ‘‘Cau­te­la nes­sa pro­fis­são é ­crucial’’, pon­tua.

  Uma das ­seis mu­lhe­res da tur­ma que en­trou no pri­mei­ro se­mes­tre des­te ano na Uno­par, e que con­ta com qua­se 60 alu­nos, Na­tá­lia Cris­ti­na Bo­ni, 19, já tem ­mais de 100 ho­ras au­las prá­ti­cas e um de­se­jo bem co­mum: pi­lo­tar e ser ins­tru­to­ra de voo. ‘‘Não ve­jo a ho­ra de com­ple­tar as 150 ho­ras de voo pa­ra co­me­çar a ­trabalhar’’, avi­sa Na­tá­lia.

  Ela co­me­çou as au­las prá­ti­cas no Ae­ro­clu­be de Lon­dri­na ano pas­sa­do e es­te ano de­ci­diu en­trar pa­ra a fa­cul­da­de de ciên­cias ae­ro­náu­ti­cas. A ­idéia tam­bém é se apro­fun­dar nos as­sun­tos que en­vol­vem o se­tor. ‘‘No Ae­ro­clu­be apren­di al­gu­mas coi­sas teó­ri­cas, mas na gra­dua­ção is­so é ­mais am­plo. O cur­so tam­bém ­abre o cam­po de tra­ba­lho, ape­sar de gos­tar de pi­lo­tar po­de­rei ­atuar em ou­tros se­to­res da ­avia-ção’’, en­fa­ti­za.

  Na­tá­lia des­ta­ca que quan­do ini­ciou o cur­so sen­tiu um pou­co de pre­con­cei­to por ser mu­lher. Po­rém, com o tem­po pas­sou a sen­tir o res­pei­to das ou­tras pes­soas. ‘‘In­cen­ti­vo as mu­lhe­res que têm o de­se­jo de ser pi­lo­to que si­gam em fren­te e não ­desistam’’, diz. Gior­ge Tsu­ru­ta, pro­fes­sor do cur­so de gra­dua­ção em ciên­cias ae­ro­náu­ti­cas, con­fir­ma que a maio­ria, cer­ca de 90% das pes­soas que pro­cu­ram o cur­so são ho­mens. Mas, se­gun­do ele, as mu­lhe­res têm de­mons­tra­do ca­da vez ­mais in­te­res­se pe­la ­área. (E.Z.)

Erika Zanon
Reportagem Local

http://www.bonde.com.br/folha/folha.php?id_folha=2-1--2561-20090807

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