SUA carreira - No chão e nos ares da aviação
‘Mais que pilotar, o importante é saber gerenciar a aeronave’

Ivan Saab Lima é piloto há mais de 10 anos, mesmo com a experiência optou por cursar a faculdade
‘‘Quem faz o curso são pessoas apaixonadas por aviação’’, resume Giorge Tsuruta, professor de segurança de voo
Voar faz parte do imaginário de muita gente: é mítico, é romântico. Ser piloto de avião, assim como ser bombeiro, médico ou qualquer outra carreira, cujos atos lembrem os de um super-herói, vez ou outra entra no sonho profissional de alguém. Por essas e outras razões, a graduação em Ciências Aeronáuticas é um dos cursos mais procurados e com menos desistência da Universidade Norte do Paraná (Unopar), em Londrina. ''Quem faz o curso são pessoas apaixonadas por aviação'', resume Giorge Marlon Lopes Tsuruta, professor de segurança de voo do curso. Segundo ele, em torno de 80% dos graduandos carregam consigo o desejo de se tornar piloto.
Mas engana-se quem pensa que vai sair da faculdade ''voando''. O curso, que foi implantado no ano 2000, tem duração de três anos, envolve diversas áreas da aviação e quem quer seguir a carreira de piloto ainda vai precisar passar pelo curso prático oferecido por alguns aeroclubes homologados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), incluindo o de Londrina.
Entre as ênfases da graduação estão as disciplinas de segurança e de gestão do setor aeronáutico. O objetivo, segundo Tsuruta, é cuidar da profissionalização do aluno como um todo. ''O diferencial da graduação em ciências aeronáuticas é o trabalho feito nas questões gerenciais do setor que hoje são indispensáveis para quem quer trabalhar nas companhias aéreas'', aponta o professor. Ele argumenta, inclusive, que a ideia de implantar o curso surgiu justamente da necessidade do mercado por profissionais mais ''completos''.
Ele explica, por exemplo, que atualmente para ser um piloto não basta apenas saber ''pilotar''. ''O importante é gerenciar'', pontua. Hoje em dia, acrescenta Tsuruta, a maioria das aeronaves é automática, então um piloto precisa aprender a gerenciar essa máquina e os outros profisisonais que trabalham ao seu redor. ''Hoje 90% da função de um piloto é gerenciar e não apenas pilotar uma aeronave''.
Quem sai do curso de graduação, por sua vez, pode atuar em aeroportos e empresas aéreas. Um dos setores que tem absorvido parte desses profissionais é o que envolve segurança de voo, principalmente a área de prevenção de acidente. ''Tudo o que está relacionado às atividades de voos são bem legisladas. Então, uma das atividades dos profissionais que atuam na parte de segurança é verificar se os processos das empresas do setor estão de acordo com as normas estabelecidas'', observa.
Tsuruta comenta que a profissão de piloto quase sempre está relacionada ao glamour, ao romantismo, o que deixa alguns deles se sentindo melhores do que outros. Com o curso, afirma ele, a ideia é mostrar que a profissão tem lá suas especialidades e belezas, mas trata-se de uma carreira como qualquer outra. ''Fazemos um trabalho de profissionalização no sentido de mostrar todos os lados do setor aéreo e para que o aluno não saia da faculdade achando que é um deus'', finaliza.
Brevê exige 150 horas aulas de voo
Segundo Giorge Tsuruta, professor do curso de ciências aeronáuticas da Unopar, quem quiser seguir a carreira de piloto ou de instrutor de voo precisa fazer um treinamento à parte. ‘‘Nossa graduação permite que o aluno faça essas aulas durante ou após o curso’’, destaca. Aqui em Londrina, as aulas práticas podem ser feitas no Aeroclube.
Para obter o Certificado de Habilitação Técnica, o famoso brevê, é preciso completar 150 horas aulas de voo. Com essa pontuação o aluno está autorizado a ser piloto privado ou comercial, em aeronaves de pequeno porte. Já para ser piloto de linha aérea, é preciso somar no mínimo 1,5 mil horas de voo. A preparação para ser piloto pode levar de três meses a mais de um ano. Segundo, Tsuruta a duração do curso será de acordo com a disponibilidade de tempo e de recursos do aluno. Cada hora aula prática custa em média R$ 230.
O curso de graduação em ciências aeronáuticas, por sua vez, tem duração de três anos e a mensalidade é de R$ 436. Durante a graduação, explica o professor, os alunos têm apenas aula de simulação de voo, mas não aulas práticas. Nos laboratórios têm até simulação de sistemas de aeronaves de grande porte. ‘‘É tudo muito próximo do real, mas não é prática’’, enfatiza Tsuruta. Os alunos também têm acesso a um laboratório no qual recebem orientações sobre mecânica.
Ele explica que quem ser piloto pode fazer apenas o curso prático do Aeroclube, que também oferece algumas disciplinas teóricas. Mas o grande diferencial da graduação é que os alunos têm contato com disciplinas que hoje são indispensáveis para trabalhar no setor aéreo, mesmo para aqueles que desejam apenas ser pilotos.
O professor enfatiza que a graduação também ajuda o aluno a se inserir no mercado de trabalho, fazendo parcerias com empresas e oportunizando estágios. ‘‘Muitos alunos são efetivados’’, garante. Quanto aos salários oferecidos no setor, Tsuruta informa que variam conforme a função exercida. Segundo ele, quem atua na área administrativa, por exemplo, na parte de segurança ou gestão pode entrar no mercado com salário inicial em torno de R$ 2 mil. A remuneração inicial de um piloto comercial gira em torno de R$ 3,5 mil. Um copiloto de linha aérea que acabou de entrar ganha perto de R$ 5 mil e um comandante de voos internacionais pode receber em torno de R$ 18 mil. (E.Z.)
Desejo de voar é o que move alunos
Ivan Saab Lima, 31 anos, sempre sonhou em ser piloto. Quando terminou o Ensino Médio até prestou vestibular para Física na Unicamp, passou, mas não foi sequer um dia para a aula. Acabou se inscrevendo no curso prático para piloto do aeroclube de Piracicaba, interior de São Paulo. Foram dois anos de curso, e de lá para cá já são mais de dez anos pilotando aeronaves executivas. ‘‘Todo piloto é piloto porque gosta muito. Voar é algo romântico, mítico. Até hoje ainda acho lindo voar’’, conta o profissional.
Mesmo com toda a experiência nos ares – já soma mais de 1,5 mil horas de voo – Lima decidiu entrar para a faculdade de ciências aeronáuticas no ano passado. ‘‘O curso é muito interessante, oferece um aprofundamento do setor. Hoje eu vejo isso como fundamental’’, analisa o piloto, que tem a intenção de continuar a carreira na área comercial.
Para quem deseja seguir a mesma profissão, Lima aconselha a ter sempre em mente que ser piloto não é ser super-herói. ‘‘Há que se ter um pouco de medo de voar’’, brinca ele. ‘‘Cautela nessa profissão é crucial’’, pontua.
Uma das seis mulheres da turma que entrou no primeiro semestre deste ano na Unopar, e que conta com quase 60 alunos, Natália Cristina Boni, 19, já tem mais de 100 horas aulas práticas e um desejo bem comum: pilotar e ser instrutora de voo. ‘‘Não vejo a hora de completar as 150 horas de voo para começar a trabalhar’’, avisa Natália.
Ela começou as aulas práticas no Aeroclube de Londrina ano passado e este ano decidiu entrar para a faculdade de ciências aeronáuticas. A idéia também é se aprofundar nos assuntos que envolvem o setor. ‘‘No Aeroclube aprendi algumas coisas teóricas, mas na graduação isso é mais amplo. O curso também abre o campo de trabalho, apesar de gostar de pilotar poderei atuar em outros setores da avia-ção’’, enfatiza.
Natália destaca que quando iniciou o curso sentiu um pouco de preconceito por ser mulher. Porém, com o tempo passou a sentir o respeito das outras pessoas. ‘‘Incentivo as mulheres que têm o desejo de ser piloto que sigam em frente e não desistam’’, diz. Giorge Tsuruta, professor do curso de graduação em ciências aeronáuticas, confirma que a maioria, cerca de 90% das pessoas que procuram o curso são homens. Mas, segundo ele, as mulheres têm demonstrado cada vez mais interesse pela área. (E.Z.)
Erika Zanon
Reportagem Local
http://www.bonde.com.br/folha/folha.php?id_folha=2-1--2561-20090807

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