9 de nov. de 2009

O embarque imediato da Azul

Ana Lúcia Moura Fé, da INFO

SÃO PAULO - David Neeleman, fundador da empresa aérea Azul, fala sobre a tecnologia a bordo dos aviões.

david-neeleman-azul-20091021062320[1] A carreira de David Neeleman, de 49 anos, tem a velocidade de um jato. Em 1979, aos 20 anos, o paulista filho de americanos pregava a fé como missionário mórmon em favelas cariocas e cidades nordestinas. Em 2000, criou, nos Estados Unidos, a Jet- Blue, companhia aérea de baixo custo premiada como uma das mais eficientes daquele país. Passou de vendedor de pacotes turísticos a integrante da lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time. Em 2008, Neeleman criou a Azul Linhas Aéreas, que opera a partir do aeroporto de Viracopos, em Campinas. Em pouco mais de seis meses a empresa tornou-se a terceira maior do país, atrás da Gol e da TAM. Em junho transportou 650 mil pessoas em 74 voos diários para 14 destinos. Na sede da Azul, em Barueri, São Paulo, entre uma consulta e outra ao seu BlackBerry, Neeleman falou à INFO sobre a tecnologia a bordo dos aviões.

INFO - Sua primeira companhia aérea, a Morris Air, foi pioneira no uso do bilhete eletrônico. Por que vocês adotaram essa solução?

NEELEMAN - O bilhete comprado e emitido por computador aboliu aquele carnê com uma página para cada trecho a ser voado. Pudemos dispensar os papéis e simplificar o controle administrativo. Isso reduziu os custos e facilitou o embarque. A IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) trabalha para abolir bilhetes impressos. Isso vai salvar milhões de árvores todos os anos.

INFO - A Azul é conhecida pelas passagens baratas. Vocês cortaram serviços para baixar custos?

NEELEMAN - Antes da Azul, pagavam-se 700 reais para ir a Fortaleza porque não havia opção mais barata. Agora, a viagem custa metade desse valor. Nossa tarifas são resultado de eficiência. Não usamos carrinhos de bebidas e comidas e não oferecemos sanduíches ruins. Temos bebidas e snacks que são servidos em cestas pelas comissárias de bordo. Mas alguns dos nossos jatos têm monitores individuais de televisão em todas as poltronas.

INFO - Haverá TV ao vivo nos voos?

NEELEMAN - Sim. Em 2010 toda a nossa frota oferecerá até 36 canais de TV ao vivo. Serão os canais da NET. Os passageiros poderão ver novelas, telejornais, e, se tudo der certo, os jogos de futebol da Copa do Mundo, em junho do próximo ano. Os equipamentos necessários para isso estão sendo desenvolvidos pela LiveTV, a empresa que domina a tecnologia de TV ao vivo em aviões.

INFO - Vocês divulgaram que teriam TV ao vivo neste semestre. Qual a razão para o adiamento?

NEELEMAN - Basicamente a antena. O satélite que difunde sinais de TV no Brasil usa uma frequência diferente da que é empregada nos Estados Unidos. É preciso desenvolver uma nova antena. Depois, ela terá de passar pelo processo de certificação.

INFO - A Azul vai ter rede sem fio para acesso à internet nos voos, como a JetBlue?

NEELEMAN - A internet nos aviões ainda é cara demais para o passageiro comum. Por isso, não vamos instalá-la nos aviões da Azul.

INFO - A Azul usa aviões E-Jets 190 e 195, da Embraer. Por que esses modelos?

NEELEMAN - São aviões com 106 e 118 assentos, respectivamente. Esse tamanho atende a nossa estratégia de oferecer linhas diretas entre várias cidades com vários voos por dia. Avião menor significa mais viagens e maior ocupação de assentos. Além disso, esses jatos são equipados com o que há de mais avançado na indústria aeronáutica.

INFO - Que equipamentos são esses?

NEELEMAN - Um exemplo é o Head-Up Display, ou HUD. Trata-se de uma lâmina de acrílico transparente que fica à altura dos olhos do piloto, como um para-brisa. Nela, projetam-se todos os dados importantes para o trabalho do piloto. Com essa tecnologia, ele pode se concentrar na pista de pouso ou no tráfego sem perder de vista os instrumentos. Não precisa olhar para baixo para consultá-los. Isso faz grande diferença na segurança, principalmente em condições de baixa visibilidade. Pagamos 650 mil dólares a mais por cada avião para ter esse equipamento. A Azul é a única empresa no Brasil a ter HUDs duplos em 100% da frota.

INFO - Os aviões da Azul usam um porta-documentos digital, o EFB. Que benefícios ele traz?

NEELEMAN - O Electronic Flight Bag (EFB) é um sistema que incrementa a segurança dos aviões porque armazena e gerencia mapas, relatórios de cálculo e documentos importantes para a administração do voo. Trata-se de uma evolução da aviônica, a eletrônica a bordo. À medida que a armazenagem eletrônica foi se tornando mais barata, perdeu o sentido os pilotos carregarem quilos de cartas aeronáuticas, esquemas de aproximação e pouso, procedimentos de decolagem, dados sobre a localização de aeroportos e listas de dispositivos de auxílio à navegação. Tudo isso, agora, fica no EFB, que ainda fornece dados meteorológicos ao piloto. Essa tecnologia agiliza as operações e torna a atualização das informações mais rápida e segura. O piloto pode se concentrar mais na pilotagem. No Brasil, só a Azul tem isso em 100% da frota.

INFO - Como confiar na tecnologia com tantos acidentes acontecendo?

NEELEMAN - Posso afirmar que, em quase 100% dos acidentes aéreos, o motivo é falha humana. Tenho 100% de confiança nos nossos aviões, que são os mais seguros do mundo, e na qualificação dos nossos 150 pilotos.

Fonte: INFO

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