RIO - A exploração de petróleo no pré-sal pode esbarrar num gargalo que vem dos ares. Estima-se que a demanda por helicópteros que transportam passageiros até as plataformas em alto-mar (offshore) dobre em cinco anos, quando a mais promissora fronteira petrolífera brasileira estará em plena operação.
Hoje, são cerca de 140 aeronaves, segundo a Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros. Com isso, mostra reportagem de Danielle Nogueira, publicada neste domingo pelo GLOBO, a tripulação de 700 pilotos que atuam no segmento terá de crescer na mesma proporção. O que poderia ser uma oportunidade de emprego, porém, pode se tornar um problema por duas razões: tempo e custo de formação de mão de obra, o que já está levando o Congresso a analisar a possibilidade de importação de pilotos. Hoje, só brasileiros podem exercer a profissão.
Os campos de petróleo do pré-sal ficam a até 300 quilômetros da costa. Para voar trajetos tão longos - hoje a distância média das plataformas em alto-mar é de cem quilômetros - os helicópteros precisam ser maiores, de modo a transportar no mínimo 15 pessoas sem necessidade de parar para reabastecer por ao menos quatro horas. Atualmente, o único fabricante de helicópteros no país, a Helibras, não produz aeronaves de grande porte. A expectativa é que só em 2012 a empresa possa atender as especificidades do pré-sal.
Enquanto isso não acontece, empresas como Líder e BHS, as duas maiores operadoras de voos offshore no Brasil, resolvem a questão importando helicópteros. Juntas, elas investiram mais de US$ 300 milhões desde 2009 na compra de 16 aeronaves - entre elas o S-92, da americana Sikorsky - capazes de voar até as plataformas do pré-sal. O problema é que não há profissionais para pilotá-las em quantidade suficiente. Na BHS, por exemplo, apenas sete dos 140 pilotos são habilitados para comandar o S-92, o que levou a empresa a trazer seis instrutores de fora para qualificar sua tripulação.
- Esses equipamentos são modelos novos na indústria e nunca haviam operado comercialmente no Brasil. Isso nos obrigou a trazer instrutores estrangeiros - disse o diretor-executivo da BHS, Décio Galvão.
Com cerca de oito toneladas e avaliado em US$ 27 milhões, o S-92 é praticamente um avião. É tão grande - tem capacidade para 18 passageiros, além da tripulação - que há até comissários de bordo nos voos. Para pilotá-lo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) exige, entre outros, a carteira de piloto comercial, obtida após cem horas de voo, e um curso de navegação por instrumentos, no qual se aprende a pilotar guiando-se por satélite.
Há ainda mais um detalhe: das três mil horas de voo, 500 devem ter sido feitas em helicópteros de porte equivalente ao que o profissional vai pilotar. Como os equipamentos grandes eram raridade no Brasil, a maior parte dos pilotos brasileiros, mesmo os experientes, não podem comandar os novos S-92.
É o caso do piloto Paulo Afonso Coutinho, de 46 anos, que há 15 anos faz voos offshore em helicópteros de médio porte. Agora, está sendo treinado pela BHS para comandar o S-92:
- Fiquei um mês nos EUA fazendo um curso teórico. Agora, atingir as 500 horas é questão de tempo.
Além do tempo de formação, o custo da mão de obra é outro entrave. Para comandar o S-92, o piloto terá de gastar cerca de R$ 160 mil em cursos e exames.
Publicada em 30/10/2010 às 21h19m
O Globo
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