22 de abr. de 2010

Co-piloto ou marionete?

O presente artigo fala da responsabilidade e importância do co-piloto, freqüentemente subestimado por ele mesmo e por alguns comandantes "auto-suficientes".

Volta e meia vemos questionado, através de piadas de mau gosto, se a presença de um co-piloto na cabine de comando é mais uma exigência legal do que propriamente uma necessidade. Se você é um co-piloto, provavelmente inclinará a cabeça em sinal de concordância, enquanto os comandantes poderão validar qualquer tendência de fazer o mesmo, pela lembrança de seus dias de assento direito.

As piadas são criadas para serem aceitas com leveza; acontece que voar do lado direito, além de não ser uma piada, é algo muito sério.

O aviador pioneiro, que se indignou frente à mera sugestão de levar consigo um piloto, poderia ter tido razões conservadoras e antiquadas para isto. Mas, com o desenvolvimento, o progresso das aeronaves e a complexidade sempre crescente dos sistemas de tráfego, esta águia solitária tornou-se arcaica por razões óbvias.

Infelizmente, a degradação sutil do co-piloto não desapareceu juntamente com o comandante auto-suficiente. Talvez seja simplesmente uma continuação dos velhos tempos. Mas existe uma real possibilidade de que tais rebaixamentos, que muitas vezes ressumam nas cabines de comando de nossas mais modernas aeronaves, tenham contribuído com acidentes em que os co-pilotos desempenharam papéis importantes.

Todos nós temos visto o jovem e atento co-piloto, ansioso por assistir seu comandante de qualquer maneira possível. Assim mesmo, quantas vezes você tem visto ou sido um comandante impaciente, aquele que assume completamente os deveres do co-piloto a título de ganhar tempo? Quantos comandantes não são simplesmente impacientes para esperar que um inexperiente homem da direita tateie metodicamente através de uma lista de cheque?

A degradação da função, na cabine, está diretamente relacionada à atitude pouco realista de que um verdadeiro e completo "capitão" pode perfazer todas as funções da cabine melhor ainda quando despojado da assistência do co-piloto.

Conseqüências

Esta maneira de pensar pode ter um desenrolar com implicações indesejáveis, a primeira é que o co-piloto não tocará em qualquer coisa sem primeiro hesitar, observando disfarçadamente o piloto, vendo se ele concorda com o ato.

Em essência, tal co-piloto tende a transferir suas responsabilidades ao comandante. Ele, subconsciente-mente, desiste de tentar o desempenho de seus próprios standards, porque seu comandante o desencoraja a fazê-lo. Em outras palavras, ele se acomoda e espera que o comandante ou cumpra com todas as funções ou o instrua verbalmente sobre como e quando fazer alguma coisa na qual ele já deveria ser proficiente.

Existe um outro tipo de co-piloto sofrendo de uma tensão originária da mesma doença, que pensa estar o comandante constantemente a vigiá-lo; uma vez que ele sabe estar sendo minuciosamente observado, espera que todos os seus erros sejam imediatamente corrigidos, e assim deixa de ser tão cuidadoso como poderia ser.

Membro Vital

Infelizmente, nem todos os erros de um co-piloto são corrigíveis. Por exemplo: numa fase de emergência, cada homem tem uma obrigação a cumprir que, em hipótese alguma, deve ser transferida a outrem. Ou talvez o outro não tenha tempo para observar que alguém deixou de executar um item particular.

Co-pilotos também são membros vitais. Se assim não fosse, sua presença não seria prevista na composição de certas tripulações. Como membros vitais, eles não podem pensar que estão sentados do lado direito aguardando placidamente uma graduação, e nem devem ser tratados neste sentido. Mas se eles não estiveram conscientizados desse status, não operarão efetivamente, vindo o dia em que gerarão problemas.

Muitos co-pilotos inexperientes começam tentando seu melhor nível por uma questão de satisfazer o homem da esquerda. Não há nada de errado nisso, pois todo o subordinado deve tentar satisfazer seu superior no âmbito funcional, guardados os limites da dignidade profissional e pessoal. Mas o mais importante é que ele deve pensar por si mesmo; deve agir como uma entidade pensante e não como uma marionete do assento direito. Se ele não pensa, está roubando toda a equipe naqueles momentos em que alguém tem que pensar por ele.

Qualquer bom comandante de aeronave monitora seus co-pilotos numa certa extensão, particularmente se este é novato ou inexperiente naquele tipo de avião. Na verdade, o comandante monitora toda a equipe, mas os co-pilotos também necessitam da oportunidade de assumir responsabilidades e ganhar confiança na sua habilidade de servir como mão direita do comandante. Para fazer isso, o homem da direita precisa crer que é parte importante da tripulação. Nesta descoberta é que o comandante atua como parte imprescindível.

Comandantes de aeronaves não detêm o "monopólio do mercado de acidentes" e certamente os co-pilotos precisam executar seus deveres propriamente, a fim de tornar cada vôo o mais seguro possível. Afinal de contas, sabe-se que acidentes aéreos já foram precipitados por co-pilotos, prova ampla da natureza crítica de suas obrigações.

Publicado originalmente na Revista Cockpit (Ano 3, Jan/Fev 1989), da Associação dos Pilotos da VASP - (Indicado pelo Cmte. Pavanello - Diretor de Piloto da ATT).

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